As Redes sociais e
a nova ordem econômica
Jonatan
Rafael
O
aperfeiçoamento contínuo é a formatação do ócio criativo, que é exigido
diariamente de todos os trabalhadores, como dito anteriormente, como um procedimento
de aproximação inexorável do trabalho, ou seja, a mente do homem permanece
conectada a assuntos referentes ao cotidiano da fábrica, do escritório ou da
universidade.
No entanto, Adorno (2002) levanta
uma interessante questão ao afirmar que seu tempo livre é preenchido com
estudos e leituras, muitas vezes ambos concernentes ao seu dever de professor.
Para legitimar tal ação, o filósofo alemão se utiliza do prazer que lhe é dado
esses dois fatos.
Não são poucos os profissionais que,
em seus momentos de lazer encontram uma forma de trazer trabalho e prazer, dois
fatores que não deveria nunca ter qualquer tipo de ligação. Muito mais que a
tradição industrial, o tempo livre faz parte da divisão social do trabalho.
Quando a internet ascendeu, o
horizonte do tempo livre pode ser dividido de cinco formas, cada qual de acordo com a evolução
desse mecanismo (BRIGGS; BURKE, 2006)[1].
- Primeiro estágio (1955 – 1969):
desenvolvente tecnológico e pesquisa de base para a construção da rede mundial
de computadores.
- Segundo estágio (1970 – 1980): a
internet era utilizada com fins acadêmicos e estudantis.
- Terceiro estágio (1981 – 1990):
nesse momento, a internet já estava popularizada nos Estados Unidos, e os personal computers se alastravam entre a
classe média norte-americana, criando um verdadeiro mito. Pode-se dizer também
que, aqui, a internet se um complemento à realidade, como diversão e lazer.
- Quarto estágio (1991 – 2000): a
internet já está popularizada no mundo todo, repleta de sites e páginas sobre
os mais diversos assuntos. Aqui, a rede mundial de computadores se transforma
uma alternativa à realidade, criando um universo paralelo, algo parecido com o
que é apresentado no filme Matrix.
- Quinto estágio (2001 – presente):
a internet volta a ser um complemento da vida física, porém, desta vez, ela
ultrapassa o limite do lazer e se transforma em uma extensão do mundo. A conectiva
através de dispositivos móveis é o grande avanço (de telefones celulares à tablets)
É no quinto estágio, mais precisamente
em 2004, que os softwares sociais
como os conhecemos, passam a existir. Facebook e Orkut se transformam rapidamente
em alternativas às modalidades convencionais de comunicação. Do telefone ao e-mail,
todas as formas de comunicação, até então vigentes, sofrem com as novas mídias.
Segundo Galo (2011), as grandes corporações
perceberam, principalmente no Facebook de Mark Zuckerberg e Eduardo Savarin, por
permitir a inserção de novos aplicativos. Não é, necessariamente, uma forma de
colonialismo, ao contrário, as redes sociais se tornam um aparato democrático,
uma ferramenta de oposição às ditaduras (Lemos; Lévy, 2010), mesmo na China,
país no qual todo o sistema de internet é controlado pelo governo.
Na questão econômica, as mídias
sociais criaram um novo nicho de mercado que começa a ser preenchido pouco a
pouco por jovens investidores e empreendedores que, recém formandos, não
encontram verdadeiras oportunidades de trabalho. DE MASI (2000), alega que, com
a chegada da tecnologia, novas formas de pensar o mundo foram surgindo e, por
conseguinte, as velhas noções de mundo foram abandonadas. As cresças
religiosas, que haviam voltado ao agenda
setting (graças ao vazio da vida cosmopolita e contemporânea), foi perdendo
força outra vez, sendo substituída pelo racionalismo virtualizado.
A sociedade de serviços se tornou
acentuada e potencializada pela conectividade em tempo integral. Comprar e
vender se tornou uma tarefa tão simples que foi incorporada, quase automaticamente,
ao dia-a-dia de inúmeros internautas. É muito importante ressaltar que a
mercantilização na ocorre apenas por meio da compra e vendas de produtos físicos,
mas também de informações.
O Google disponibiliza um sistema de
ganho em seus blogs chamado AdSense. O proprietário do blog efetua um cadastro
pago e passa a receber uma verba repassada através de sua conta bancária e
cartões de crédito. O sistema de ganhos é simples: anúncios são escolhidos e
colocados no site, o leitor acessa o anúncio e o valor da visualização é repassado
ao “blogueiro”. Várias plataformas permitem esse tipo de ação e cada vez mais
as informações de produção doméstica ganham importância.
Por tanto, o tempo livre é visto
como oportunidade de negociação pelas empresas. Os internautas vislumbram o
tempo livre como oportunidade de alienação através da aquisição. Assim, o que antes
deveria ser modelo de alheamento é, hoje, a sistematização da escravidão
tecnológica.
Bibliografia
ADORNO, Theodor W.
Tempo livre in Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BRIGGS, Asa;
BURKE, Peter. Uma história social da
mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
DE MASI, Domenico.
O Ócio criativo. Rio de Janeiro:
Sextante, 2000.
GALO,
Bruno. Você pode ganhar muito dinheiro no
Facebook. Isto É Dinheiro, n° 726, 04 de agosto de 2011.
LEMOS, André;
LÉVY, Pierre. O Futuro da internet. São
Paulo: Paulus, 2010.
[1] A divisão
em estágios pertence a mim. Apenas a pesquisa
histórica foi retirada de Briggs e Burke.
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