sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Teorias do Ciberjornalismo – parte 1



Jonatan Rafael

            O destino do jornal impresso é ainda incerto, contudo, não é preciso ser umespecialista na área para saber que a queda nas vendas foi vertiginosa. Grupos, como o gigantesco Times, anunciaram que suas versões em papel estão próximas à bancarrota. Jornais tradicionais – aqueles direcionados à classe média - são os que mais sofrem com a crise na imprensa, principalmente, porque, a maioria de seus leitores têm buscado notícias no meio on line – fato que obrigou, jornais como a Folha de S. Paulo, a disponibilizar todo o conteúdo do impresso na internet, gratuitamente.
            Ao certo, impreciso dizer se a situação é um avanço ou um retrocesso. No início dos jornalismo on line, que iniciou no Brasil na década de 90 com o Jornal do Brasil, o conteúdo disponível na web era exatamente o mesmo que se podia encontrar no exemplar vendido nas bancas. Tudo estava ali, todas as teorias jornalísticas se faziam presentes naquele “jornal de internet”, desde a pirâmide invertida, até a sisudez do texto escrito para o impresso (PENA, 2005). Novas dinâmicas foram propostas para o “jornal de internet” – porque, afinal, ele não passava disso, uma réplica digital do exemplar físico -, que o transformaram no  jornalismo on line/web journal, mas que ainda estava preso ao texto e poucas fotos - sendo que o ambiente virtual permite ao algo muito maior. Porém, hoje, pode-se notar a incrível uma incrível evolução que desaguou no CIBERJORNALISMO.
            O termo é ainda pouco usado, pois muitos acreditam ser, somente, um sinônimo de jornalismo on line. No entanto, não é. O ciberjornalismo engloba as funções multimídias, aliadas à instantaneidade da internet e, claro, as mídias sociais. Essa postura, focada no conteúdo e não no leitor é parte do que Lemos e Lévy (2010) chama de web semântica, ou seja, todos os esforços para que se produza informações de qualidade e atrativas serão feitas, assim, o receptor fica em segundo plano, como uma conseqüência desse processo. Além disso, o próprio leitor se transforma em um canal de compartilhamento dessas informações[1].Muitos jornais fazem ciberjornalismo e, provavelmente, nem se dão conta disso.
            Assim, no ciberjornalismo a interação é a característica de maior vigência. Nesse caso, a interação é mediada por computadores, algo que parece óbvio em se tratando do ambiente virtual. Talvez, somente com o aprimoramento do jornalismo digital[2], o esquema “emissor – mensagem – receptor” mantêm-se, praticamente inalterado, não fosse a perda da linearidade e pela aquisição do caráter de canal por parte do receptor (PRIMO, 2008). Assim, a proposição de Mcluahn (1985) de que o meio é a mensagem, não se torna inválida, afinal, ela ainda continua verdadeira, porém, é atualizada com “o receptor é um canal”.
            Certamente, muitos argumentarão que, antes, o receptor já era um emissor graças ao feedback. Isso também é correto, porém, atualmente, o receptor dispõe de ferramentas de comunicação-individual de massa (CASTELLS, 2009), ou seja, implementos que possibilitam, não só a reprodução e compartilhamento da informação, mas a adição de novos fatos e a publicação de forma massiva - por blogs, mídias sociais e etc.
            Portanto, o ciberjornalismo vem sedimentar a nossa era, uma era de informação em excesso e das diversas fontes. Dia 20 de outubro de 2011, o ditador da Líbia Muamar Kadafi foi capturado e morto. Pipocaram na internet vídeos feitos pelos rebeldes mostrando a humilhação daquele homem que castigou seu país. Preste atenção e veja que muitas das imagens veiculadas na tevê são provenientes dos celulares dos rebeldes que capturaram Kadafi.
            Em outras palavras, a economia da comunicação (MATELLART; MATELLART, 1999) que iniciou nos anos 60 uma verdadeira demanda de informação e disseminou a dependência cultural, passa a vivenciar o “outro lado” em lado, criando uma sociedade mais democrática, porém, ainda dependente, embora dessa vez, estamos subjugados à informação (LEMOS; LÉVY, 2010).

Bibliografia
CASTELLS, Manuel. Communication power. New York: Oxford University Press, 2009.
MATELLART, Armand; MATELLART, Michèle. Histórias das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 1999.
MCLUHAN, Marshall. The medium is the message. Berkeley: Gingko Press, 1985.
PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.
PRIMO, Alex. Interação mediada por computador. Porto Alegre: Sulina, 2008.


[1] Isso pode acontecer de diversas formas, porém, a maior ocorrência é através de funções como "compartilhar" existente no Facebook, “retweet” no Twitter e similares, ou ainda, via e-mail.
[2] Aí sim, epistemologicamente, uma definição para toda e qualquer modalidade de jornalismo apresentado no ambiente virtual.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

Tempo livre versus redes sociais: o paradigma do ócio criativo - Parte 2


As Redes sociais e a nova ordem econômica

Jonatan Rafael

O aperfeiçoamento contínuo é a formatação do ócio criativo, que é exigido diariamente de todos os trabalhadores, como dito anteriormente, como um procedimento de aproximação inexorável do trabalho, ou seja, a mente do homem permanece conectada a assuntos referentes ao cotidiano da fábrica, do escritório ou da universidade.
            No entanto, Adorno (2002) levanta uma interessante questão ao afirmar que seu tempo livre é preenchido com estudos e leituras, muitas vezes ambos concernentes ao seu dever de professor. Para legitimar tal ação, o filósofo alemão se utiliza do prazer que lhe é dado esses dois fatos.
            Não são poucos os profissionais que, em seus momentos de lazer encontram uma forma de trazer trabalho e prazer, dois fatores que não deveria nunca ter qualquer tipo de ligação. Muito mais que a tradição industrial, o tempo livre faz parte da divisão social do trabalho.
            Quando a internet ascendeu, o horizonte do tempo livre pode ser dividido de cinco  formas, cada qual de acordo com a evolução desse mecanismo (BRIGGS; BURKE, 2006)[1].
            - Primeiro estágio (1955 – 1969): desenvolvente tecnológico e pesquisa de base para a construção da rede mundial de computadores.
            - Segundo estágio (1970 – 1980): a internet era utilizada com fins acadêmicos e estudantis.
            - Terceiro estágio (1981 – 1990): nesse momento, a internet já estava popularizada nos Estados Unidos, e os personal computers se alastravam entre a classe média norte-americana, criando um verdadeiro mito. Pode-se dizer também que, aqui, a internet se um complemento à realidade, como diversão e lazer.
            - Quarto estágio (1991 – 2000): a internet já está popularizada no mundo todo, repleta de sites e páginas sobre os mais diversos assuntos. Aqui, a rede mundial de computadores se transforma uma alternativa à realidade, criando um universo paralelo, algo parecido com o que é apresentado no filme Matrix.
            - Quinto estágio (2001 – presente): a internet volta a ser um complemento da vida física, porém, desta vez, ela ultrapassa o limite do lazer e se transforma em uma extensão do mundo. A conectiva através de dispositivos móveis é o grande avanço (de telefones celulares à tablets)

            É no quinto estágio, mais precisamente em 2004, que os softwares sociais como os conhecemos, passam a existir. Facebook e Orkut se transformam rapidamente em alternativas às modalidades convencionais de comunicação. Do telefone ao e-mail, todas as formas de comunicação, até então vigentes, sofrem com as novas mídias.
            Segundo Galo (2011), as grandes corporações perceberam, principalmente no Facebook de Mark Zuckerberg e Eduardo Savarin, por permitir a inserção de novos aplicativos. Não é, necessariamente, uma forma de colonialismo, ao contrário, as redes sociais se tornam um aparato democrático, uma ferramenta de oposição às ditaduras (Lemos; Lévy, 2010), mesmo na China, país no qual todo o sistema de internet é controlado pelo governo.
            Na questão econômica, as mídias sociais criaram um novo nicho de mercado que começa a ser preenchido pouco a pouco por jovens investidores e empreendedores que, recém formandos, não encontram verdadeiras oportunidades de trabalho. DE MASI (2000), alega que, com a chegada da tecnologia, novas formas de pensar o mundo foram surgindo e, por conseguinte, as velhas noções de mundo foram abandonadas. As cresças religiosas, que haviam voltado ao agenda setting (graças ao vazio da vida cosmopolita e contemporânea), foi perdendo força outra vez, sendo substituída pelo racionalismo virtualizado.  
            A sociedade de serviços se tornou acentuada e potencializada pela conectividade em tempo integral. Comprar e vender se tornou uma tarefa tão simples que foi incorporada, quase automaticamente, ao dia-a-dia de inúmeros internautas. É muito importante ressaltar que a mercantilização na ocorre apenas por meio da compra e vendas de produtos físicos, mas também de informações.
            O Google disponibiliza um sistema de ganho em seus blogs chamado AdSense. O proprietário do blog efetua um cadastro pago e passa a receber uma verba repassada através de sua conta bancária e cartões de crédito. O sistema de ganhos é simples: anúncios são escolhidos e colocados no site, o leitor acessa o anúncio e o valor da visualização é repassado ao “blogueiro”. Várias plataformas permitem esse tipo de ação e cada vez mais as informações de produção doméstica ganham importância.
            Por tanto, o tempo livre é visto como oportunidade de negociação pelas empresas. Os internautas vislumbram o tempo livre como oportunidade de alienação através da aquisição. Assim, o que antes deveria ser modelo de alheamento é, hoje, a sistematização da escravidão tecnológica.

Bibliografia
ADORNO, Theodor W. Tempo livre in Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
DE MASI, Domenico. O Ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
GALO, Bruno. Você pode ganhar muito dinheiro no Facebook. Isto É Dinheiro, n° 726, 04 de agosto de 2011.
LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O Futuro da internet. São Paulo: Paulus, 2010.


[1] A divisão em estágios pertence a mim. Apenas  a pesquisa histórica foi retirada de Briggs e Burke.

Tempo livre versus redes sociais: o paradigma do ócio criativo - Parte 1

As Redes sociais como extensão do homem

Jonatan Rafael

            Diversão. Entretenimento. Lazer. Ócio.
            O tempo livre é, por muitos, um dos momentos mais esperado da jornada semanal.
            A noção de tempo livre foi, por muito tempo, um sentimento de alienação do trabalho e correspondia, apenas, aos momentos nos quais o trabalhador mantinha-se afastado do labor. Muito mais que o afastamento físico, o tempo livre deveria ser o escape mental, a distração ou como definiu Adorno (2002), de “não lembrar em nada o trabalho”.
            Na era digital, o painel é um tanto diferente. O trabalho passar a se incorporar, voluntaria e amistosamente, o tempo livre. Chegando pouco a pouco, por meio dos mecanismo tecnológicos, o trabalho se faz presente como auxiliador no processo de alheamento a ele próprio.
            Ao abrir o Facebook e o Twitter – através do personal cumputer, tablet ou smartphone em sua casa, o trabalhador encontra vários de seus workmates, discutem o resultado do futebol, o assassinato na novela e a que das ações da companhia para a qual trabalham. Tudo isso acontece de maneira muito instantânea, fomentada pela curiosidade humana. E as redes sociais potencializam esse fenômeno.
            De Masi (2000) afirma que o tempo livre pode também ser chamado de "tempo liberado", porém, essa afirmação não seria nada mais que o reforço à tradição industrial e dominadora. Segundo o sociólogo italiano, a rejeição à tecnologia não passa de "esnobismo e masoquismo”, ou seja, a tecnologia deve estar intrínseca ao cotidiano do ser humano, principalmente, no que ele nomeou de “ócio criativo”.
            As redes sociais trouxeram à tona algo há muito esquecido: o negócio do tempo livre (Adorno, 2001). Na década de 1950, o show business era vendido ao homem médio para que ele saísse de casa e esquecesse o ambiente de trabalho e tudo o que se relacionava a ele. Atualmente, o entretenimento - o alternativo e também o show business – é vendido, direta e indiretamente, ao consumidor para que ele, em sua casa, busque falso alheamento.
             Claro, esse entretenimento surge por diversas fontes, algumas anônimas e outras clássicas. Quando falamos em fontes anônimas, pode-se entender o conceito de "inteligência coletiva” cunhada por Pierre Lévy (1998), um emaranhado de opiniões que também chamamos de senso comum – embora, nesse caso, sem a virtualização da comunicação e relacionamentos. Já o show business é a grande mídia que redireciona seus produtos comunicacionais e culturais para os softwares sociais.
            Entre as duas fontes citadas, o que as diferencia é o discurso. Enquanto a primeira tem traços de seu autor, suas tintas e cor local, a segunda tem características homogenias, fundamentadas no padrão médio de receptores. Porém, ambas são culpadas pela desintegração do tempo livre e sua venda aos meios de comunicação através das redes sociais.
            Lévy (1999, p. 10) acredita que
a virtualização constitui justamente a essência, ou a ponta fina, da mutação em curso. Enquanto tal, a virtualização não é nem boa, nem má, nem neutra. Ela se apresenta como o movimento neutro mesmo do “devir outro” – da heterogênese – do humano.  

            Ao ler esse texto, muitos dos leitores estão em sua casa, em um final de semana que deveria ser dedicado ao descanso, mas que tem parte dele dedicado ao estudo. É possível dizer que a virtualização do tempo livre é a consumação do utilitarismo, tradição industrial e lucro como propriedade subjetiva (SCHARWZ, 2005).
            O que podemos pensar então do que disse Walter Benjamin (1955) em “A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” ?
No início do século XX, a reprodução técnica tinha atingido um nível tal que começara a tornar objecto seu, não só a totalidade das obras de arte provenientes de épocas anteriores, e a submeter os seus efeitos às modificações mais profundas, como também a conquistar o seu próprio lugar entre os procedimentos artísticos.
           
Se quando o filósofo alemão publicou esse texto já ocorria um processo muito próximo à produção em série da obra de arte - muito bem exemplificado pelas serigrafias de Andy  Warhol -, atualmente, não existem grandes diferenças, ao contrário, as semelhanças são acentuadas pelas possibilidades de transferência da informação.
Assim, o tempo livre pode ser preenchido de três formas distintas, porém, complementares:
- Produção de informação/conteúdo: aqui o usuário produz o conteúdo e o disponibiliza a outrem, via e-mail, redes sociais, comunicadores instantâneos ou outros meios.
- Aquisição de conteúdo: o usuário de internet apenas recebe o conteúdo, não significa que o compreende ou assimila e, nesse caso, ele é o fim da cadeia de propagação.
- Replicador: recebe, na maioria das vezes assimila a informação, e a transfere a outros.

Contudo, é impensável que um usuário médio de internet esteja situado em apenas um desses três estágios. De forma geral, em algum momento, participamos de cada um deles, sempre estando presente na maioridade do tempo em um dos estágio – que é com o qual nos identificamos mais. Por exemplo: ao escrever esse texto, me incluo no primeiro estágio e quando compartilho esse conteúdo por meio das redes sociais - em especial Facebook e Twitter – me coloco no terceiro ponto.
Portanto, o tempo livre, na era da virtualização do ser e da razão,–se tornou um conceito abstrato, compreensível apenas em sua forma teórica, haja vista seu distanciamento do homem médio que, para manter seu emprego, poder relacionar-se com qualidade, necessita abdicar do lazer e outras espécies de aproveitamento para dedicar-se ao aperfeiçoamento contínuo, modalidade explorada em MBAs, teses, pós-graduações e afins.

Referências
ADORNO, Theodor W. Tempo livre in Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BENJAMIN, Walter. A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. 1955. (Download do texto).
DE MASI, Domenico. O Ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2010.
LÉVY, Pierre. A Inteligência coletiva. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1998.
LÉVY, Pierre. O Que é virtualização? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1999.
SCHARWZ, Roberto. As Ideias fora do lugar in Cultura e política. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

domingo, 25 de setembro de 2011

O Conhecimento por Simulação: o Processo de Imaginação Auxiliado por Computador


Jonatan Rafael

            Quando Descartes (2008) em 1637 afirmava que a leitura de ficção era o mesmo que encontrar nobres de outros tempos e que estimulava a imaginação a viagens e experiências improváveis, não poderia ele conceber que quatro séculos mais tarde tudo o que disse seria possível por meio de uma intrincada rede de máquinas com a capacidade de simular um universo em paralelo[1].
            Atualmente, utilizamos o mesmo processo descrito por René Descartes, porém, ao invés de livros, temos em nossas mãos computadores, smartphones e tablets ou qualquer outro equipamento digital que permita a mediação eletrônica entre conteúdo e receptor. Podemos dizer que a aquisição desse conhecimento não acontece de forma teórica ou prática, mas sim por simulação e que é descrito por Lévy (2010) como a “imaginação auxiliada por computador”.
            No período inicial, a simulação do real tinha como objetivo o escape e a libertação e era muito bem estereotipada pelos videogames, porém, com os avanços da informática, os computadores passaram a integrar os maiores elementos para que um "universo em paralelo” fosse criado e vivenciado.
            Aos poucos, com o que Mcluhan (2007) chamou de “revolução elétrica”, os meios digitais de comunicação se popularizaram e foram atualizados. Escolas de todo o mundo adquiriam computadores como elementos de auxílio no processo de aprendizagem e davam noções de manuseio da informática aos seus alunos. No entanto, eles ainda precisavam freqüentar, fisicamente, a escola. Na existia, naquele momento, a incorporação da internet como instrumento, era ainda vista com diversão, recreio para aqueles alunos fatigados do conteúdo programático escolar.
            A partir de então, a memória informacional tomou o lugar da experiência que exigia a execução para que o conhecimento pudesse ser consolidado, visando não somente a qualidade na aprendizagem, mas também a velocidade. Porém, quando falamos em velocidade de informação, percebemos que a fonte transmite as informações modo associativo, ou seja, um assunto leva o receptor a outro e assim por diante, criando um ciclo infindável de ligações (BUSH, 1945).
            Dessa forma, somente o significado é importante, ou seja, o caráter interpretativo é que recebe prioridade, e então entram elementos gráficos, por exemplo, para auxiliar a compreensão do significado de termo ou conceito. O fenômeno é descrito por Pierre Lévy (2010) com o declínio da verdade. Nesse ínterim, propõe que a verdade deixa de ser um axioma e está, também, passível de interpretações, nunca mais sendo absoluta.
            No caso da mediação por computador, as associações não ocorrem apenas de forma escrita, ao contrário, as imagens e outras estratagemas interativas são criadas para que o aluno possa compreender e memorizar o que lhe é ministrado. Logo, o processo de aprendizagem por mediação digital transforma-se em uma excelente alternativa para receptores com afasia, concebendo tipologias gráficas de maior inteligibilidade para esse público em especial.
            Identificamos que os elementos cognitivos deixaram de ser estabelecidos pela dicotomia certo e errado e deram vazão ao campo interpretativo. Correntes lingüísticas defendem que, em determinados contextos, não é possível julgar erros gramaticais e de pronúncia, tornando necessária a análise dos motivos que levaram aos "erros".
           
           

Bubliografia
BUSH, Vannevar. As we may think. 1945. Disponível em: http://www.theatlantic.com/magazine/archive/1945/07/as-we-may-think/3881/. Acesso em 25/09/2011.
DESCARTES, René. Discurso sobre o método. Petrópolis: Vozes, 2008.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2010.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. São Paulo: Cultrix, 2007.
SJANNON, C. E.. A Mathematical theory of communication.1948. Disponível em http://cm.bell-labs.com/cm/ms/what/shannonday/shannon1948.pdf. Acesso em 25/09/2011.


Leitura complementar
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo; Loyola, 1999.
JAKOBSON, Roman. Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia in Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2010.


[1]É importante diferenciar “universo paralelo” de “universo em paralelo”. Enquanto a primeira acepção refere-se à anulação do universo real, a segunda permite a existência do real e do virtual – e que é o caso do ciberespaço.
.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Identidade Cultural e as Redes Sociais


Jonatan Rafael

        As redes sociais são muito mais que portais divulgadores de informações ou  aparatos para a conectividade entre usuários através da convergência de interesses e afins. Na verdade, elas ajudam a conceber a identidade cultural de um indivíduo por meio da seleção de conteúdo e a aquisição de novos interesses, usando a co-relação entre diferentes assuntos e novas abordagens.
            Para Stuart Hall (2006, pág. 10) a identidade do homem pós-moderno é a mescla das características do "sujeito do Iluminismo" e o "sujeito sociológico". Enquanto o primeiro tinha no homem o centro de tudo e buscava em si próprio a explicação para o universo que o cercava, o outro passava a criar valores, sentidos e símbolos, abandonando a auto-suficiência então conquistada. Pode-se dizer que, nesse momento, o homem voltou a buscar teorias religiosas que explicassem sua existência – aspecto abandonado durante o período iluminista.
            O “sujeito pós-moderno” está alicerçado na premissa de uma identidade móvel, variável de acordo com as relações estabelecidas por esse indivíduo, sejam elas virtuais ou não. Segundo Hall, dessa maneira é possível adaptar-se a diferentes situações, isto é, usar os preceitos apreendidos nos períodos iluminista e sociológico e moldar-se para uma sociedade globalizada.
            A pluralidade de identidades pode ser explicada através da psicanálise freudiana que aceita a existência do "inconsciente" na mente humana, o que permitiria que informações, desejos e sentimentos se mantivessem aquietados até que fossem despertados em alguma situação específica. Portanto, afirmar que a identidade não é inata permite pensar que sua aquisição acontece com a vivência e com a necessidade de adaptação.
            Obviamente, a aquisição de certos tipos de identidades interferirá diretamente no relacionamento e aceitação do indivíduo com a “consciência pública da sociedade” (DURKHEIM, 2011, pág. 32), ou seja, de acordo com o comportamento, alguns grupos excluíram automaticamente certos candidatos a membros.
            É interessante pensar sobre o que o filósofo alemão Theodor Adorno chama de tempo livre e aplicar esse conceito à sociedade contemporânea. Na concepção de Adorno (2002, pág. 103), todo o tempo que não é preenchido com trabalho pode ser considerado livre. Então, vejamos, quando as redes sociais surgiram eram uma alternativa à tevê, assim, apenas um mecanismo de entretenimento e distração. No entanto, no decorrer de poucos anos desde o surgimento das redes sociais, elas desmancharam esse conceito haja vista seu intenso uso para promover organizações ou, ainda, no intento de angariar contato tanto para a vida profissional quanto privada.
            Assim, como o tempo livre, as redes sociais proporcionam a sensação de liberdade e desprendimento de algo nocivo (trabalho, escola, família e tantos outros “instrumentos coercivos). A fascinação que o ser humano tem sobre si - e vendo a si próprio refletido no outro - explica um pouco do poder exercido pelas facilidade de conectar a pessoas do mundo inteiro, compartilhar opiniões e descobrir novos eus, antes escondido por concepções ou adquiridas segundo a educação formal, preceitos familiares ou religiosos. Essa é, sem dúvida, uma maneira de revisitarmos o mito grego de Narciso, rapaz que se apaixona por reflexo na água, porém, muito mais que nosso reflexo, as redes sociais se transformaram no que Marshall Mcluhan (2007) chama de “extensões do homem" .
            Podemos, portanto, afirmar que o indivíduo busca no outro, não somente a afirmação social, mas também uma identificação que lhe caiba e com a qual poderá circular nos grupos que freqüenta de forma livre, sendo visto em dois âmbitos distintos, entretanto, complementares: o individual e o coletivo. Então, no momento que essas comunidades sociais virtuais são formadas, elas, imediatamente, se transformam em grupos imaginários, pois a visão de cada membro a cerca deste depende, basicamente, de suas opiniões e valores sobre o fator de união daquele grupo. Assim, cada membro  cria em si uma imagem e um ethos para a comunidade virtual da qual participa.
            No primeiro caso, esse ator social pretende ser visto isoladamente, tendo características próprias, que o diferenciem dos demais. No outro caso, ele pretende usar suas peculiaridades para ingressar em um grupo social, fazendo com os demais membros o aceitem graças à ideologia, opinião, modo de vestir, música preferida, filmes que gosta e etc.
            Como o que foi explicado por Hall, a pluralidade de identidades e identificações permite que qualquer pessoa transite por quantos grupos sociais desejar, adequando-se momentaneamente a cada um deles. Um exemplo válido são as comunidades no Orkut. Um mesmo usuário desse site pode participar de quantas comunidades desejar, mesmo que o ingresso em um possa parecer, ideologicamente, contraditório à sua participação em outra. Não existem conflitos diretos, no âmbito ideológico, pois, como foi dito anteriormente, a rede social passa a impressão de liberdade, algo que não, totalmente, verídico, principalmente do ponto de vista jurídico.


Bibliografia
ADORNO, Theodor. O Tempo Livre in Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2011
HALL, Stuart. Identidade Cultural na Pós-modernidade.Rio de Janeiro: DP&A, 2006
 MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix, 2007