domingo, 16 de outubro de 2011

Tempo livre versus redes sociais: o paradigma do ócio criativo - Parte 2


As Redes sociais e a nova ordem econômica

Jonatan Rafael

O aperfeiçoamento contínuo é a formatação do ócio criativo, que é exigido diariamente de todos os trabalhadores, como dito anteriormente, como um procedimento de aproximação inexorável do trabalho, ou seja, a mente do homem permanece conectada a assuntos referentes ao cotidiano da fábrica, do escritório ou da universidade.
            No entanto, Adorno (2002) levanta uma interessante questão ao afirmar que seu tempo livre é preenchido com estudos e leituras, muitas vezes ambos concernentes ao seu dever de professor. Para legitimar tal ação, o filósofo alemão se utiliza do prazer que lhe é dado esses dois fatos.
            Não são poucos os profissionais que, em seus momentos de lazer encontram uma forma de trazer trabalho e prazer, dois fatores que não deveria nunca ter qualquer tipo de ligação. Muito mais que a tradição industrial, o tempo livre faz parte da divisão social do trabalho.
            Quando a internet ascendeu, o horizonte do tempo livre pode ser dividido de cinco  formas, cada qual de acordo com a evolução desse mecanismo (BRIGGS; BURKE, 2006)[1].
            - Primeiro estágio (1955 – 1969): desenvolvente tecnológico e pesquisa de base para a construção da rede mundial de computadores.
            - Segundo estágio (1970 – 1980): a internet era utilizada com fins acadêmicos e estudantis.
            - Terceiro estágio (1981 – 1990): nesse momento, a internet já estava popularizada nos Estados Unidos, e os personal computers se alastravam entre a classe média norte-americana, criando um verdadeiro mito. Pode-se dizer também que, aqui, a internet se um complemento à realidade, como diversão e lazer.
            - Quarto estágio (1991 – 2000): a internet já está popularizada no mundo todo, repleta de sites e páginas sobre os mais diversos assuntos. Aqui, a rede mundial de computadores se transforma uma alternativa à realidade, criando um universo paralelo, algo parecido com o que é apresentado no filme Matrix.
            - Quinto estágio (2001 – presente): a internet volta a ser um complemento da vida física, porém, desta vez, ela ultrapassa o limite do lazer e se transforma em uma extensão do mundo. A conectiva através de dispositivos móveis é o grande avanço (de telefones celulares à tablets)

            É no quinto estágio, mais precisamente em 2004, que os softwares sociais como os conhecemos, passam a existir. Facebook e Orkut se transformam rapidamente em alternativas às modalidades convencionais de comunicação. Do telefone ao e-mail, todas as formas de comunicação, até então vigentes, sofrem com as novas mídias.
            Segundo Galo (2011), as grandes corporações perceberam, principalmente no Facebook de Mark Zuckerberg e Eduardo Savarin, por permitir a inserção de novos aplicativos. Não é, necessariamente, uma forma de colonialismo, ao contrário, as redes sociais se tornam um aparato democrático, uma ferramenta de oposição às ditaduras (Lemos; Lévy, 2010), mesmo na China, país no qual todo o sistema de internet é controlado pelo governo.
            Na questão econômica, as mídias sociais criaram um novo nicho de mercado que começa a ser preenchido pouco a pouco por jovens investidores e empreendedores que, recém formandos, não encontram verdadeiras oportunidades de trabalho. DE MASI (2000), alega que, com a chegada da tecnologia, novas formas de pensar o mundo foram surgindo e, por conseguinte, as velhas noções de mundo foram abandonadas. As cresças religiosas, que haviam voltado ao agenda setting (graças ao vazio da vida cosmopolita e contemporânea), foi perdendo força outra vez, sendo substituída pelo racionalismo virtualizado.  
            A sociedade de serviços se tornou acentuada e potencializada pela conectividade em tempo integral. Comprar e vender se tornou uma tarefa tão simples que foi incorporada, quase automaticamente, ao dia-a-dia de inúmeros internautas. É muito importante ressaltar que a mercantilização na ocorre apenas por meio da compra e vendas de produtos físicos, mas também de informações.
            O Google disponibiliza um sistema de ganho em seus blogs chamado AdSense. O proprietário do blog efetua um cadastro pago e passa a receber uma verba repassada através de sua conta bancária e cartões de crédito. O sistema de ganhos é simples: anúncios são escolhidos e colocados no site, o leitor acessa o anúncio e o valor da visualização é repassado ao “blogueiro”. Várias plataformas permitem esse tipo de ação e cada vez mais as informações de produção doméstica ganham importância.
            Por tanto, o tempo livre é visto como oportunidade de negociação pelas empresas. Os internautas vislumbram o tempo livre como oportunidade de alienação através da aquisição. Assim, o que antes deveria ser modelo de alheamento é, hoje, a sistematização da escravidão tecnológica.

Bibliografia
ADORNO, Theodor W. Tempo livre in Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
DE MASI, Domenico. O Ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
GALO, Bruno. Você pode ganhar muito dinheiro no Facebook. Isto É Dinheiro, n° 726, 04 de agosto de 2011.
LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O Futuro da internet. São Paulo: Paulus, 2010.


[1] A divisão em estágios pertence a mim. Apenas  a pesquisa histórica foi retirada de Briggs e Burke.

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